Consultório

Ortopedista
Especializado em Cirurgia do Quadril

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Travessa 3º Sargento Laudelino Nogueira, 138
Centro - Lins/SP
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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Cistos Sinoviais

CISTOS SINOVIAIS


            O cisto sinovial é uma tumoração benigna, muito freqüente no punho, os quais representam até 70% das massas encontradas nas mão e punhos. São bastante comuns em mulheres e não são raros em crianças. Normalmente, há uma história de crescimento lento, porém pode aparecer de forma abrupta. A preocupação com a estética é a principal queixa, no entanto, o paciente pode vir a referir dor, essa quase sempre relacionada com outras patologias que coexistem com o cisto.
            Há uma correlação com a existência de microtraumas ou de um trauma mais severo no punho, no entanto seu aparecimento parece não estar muito bem elucidado ainda. O cisto, visto durante uma cirurgia, tem uma parede esbranquiçada pouco translúcida, podendo ser simples ou com várias câmaras. Seu conteúdo é uma substância gelatinosa, clara, composta por glicosamina, albumina, globulina e ácido hialurônico. Não há nenhum sinal inflamatório e nenhuma malignidade foi constatada até hoje.

            O diagnóstico é clínico, portanto, o ortopedista é capaz de, baseado na consistência, localização, mobilidade, dizer se trata-se de um cisto sinovial. Se houver dor, o exame físico é primordial para a identificação da patologia causadora da dor, por exemplo se houver instabilidade cárpica ( movimento anormal do punho causado geralmente por lesões ligamentares).
            Os cistos podem localizar-se no dorso do punho (70% surgindo da articulação escafolunar), volares(20%entre os tendões flexor radial do carpo e abdutor longo do polegar) mucosos( aparecem nas articulações interfalangeanas distais e estão relacionadas principalmente com a Osteoartrite e artrite psoriásica, sendo chamados também de nódulos de Heberden)
                                                                nódulos de Heberden
            A ultrassonografia é um exame de baixo custo, rápido, não-invasivo, geralmente suficiente para fazer o diagnóstico diferencial quando há dúvidas quanto a natureza da lesão.
O tratamento envolve a observação(30% dos cistos dorsais em adultos têm resolução espontânea em até um ano e nas crianças, em até 80%).
A aspiração do conteúdo seguida da injeção de alguma substância (associação de anestésico com corticóide), apesar de ser uma técnica pouco invasiva, tem a possibilidade de recidiva muito alta e pode ocasionar a injeção das substâncias na articulação ou tendão.
O tratamento cirúrgico pode ser feito com uma pequena via transversa no punho, ou por via endoscópica, essa última com a dificuldade técnica do manuseio quando não com um cirurgião de mão. As ressecções abertas, ou seja, aquelas feitas por um pequeno corte no punho, ainda são mais amplamente realizadas, na qual deve se ressecar todo o cisto e eliminar todos os possíveis pedículos, diminuindo assim a taxa de recidiva.


Complicações podem envolver a insatisfação quanto ao aspecto estético principalmente e dor. A instabilidade cárpica pode ocorrer mesmo nas ressecções palmares (volares) que preservem o ligamento escafossemilunar. As recidivas, ou o retorno do cisto, podem ocorrer em até 20% das vezes quando da ressecção por via aberta, caindo para apenas 5% nas artroscópicas.

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Tenosinovite de De Quervain

Tenosinovite de De Quervain


Trata-se de um processo inflamatório da sinóvea e tendões abdutor longo e extensor curto do polegar (no 1 º compartimento extensor do carpo), é uma causa comum de dor e de incapacidade no punho e mão. Atinge principalmente mulheres, 6x mais que em homens, com mais de 30- 50 anos de idade e durante um período específico, que compreende a gestação e lactação.
O primeiro compartimento extensor, onde estão incluídos os tendões acometidos por inflamação nessa doença, é delimitado, no punho, pelo ligamento transverso carpal acima e seu assoalho é o sulco no rádio, no processo estilóide para ser mais exato (vide figura).

                   Os tendões envolvido e a relação deles com o retináculo do extensores

Esta inflamação é proveniente do atrito dos tendões com o ligamento transverso do carpo, que ocorre de maneira mais intensa com os movimentos repetidos do polegar associado ao desvio ulnar do punho (posição comum aos digitadores e mais atualmente para aqueles que manipulam os smartphones). Algumas variações anatômicas, como o septo vertical e a duplicidade de tendões, podem também causar a doença.
                             Exame no qual se provoca dor com o carregamento ulnar 

O diagnóstico é facilmente identificado pelo Ortopedista, por meio de manobras durante o exame físico e pela história comum a esses pacientes, de esforço do polegar com desvio ulnar, levando-se em consideração a incidência maior em mulheres e gestantes. O edema (inchaço) pode ser notado no trajeto do primeiro compartimento extensor, além das manobras habituais, o pseudogatilho ( o polegar pode ficar breve e levemente “travado”), pode indicar a causa da tenossinovite, a duplicidade de tendões.
O USG e RNM podem procurar por variações anatômicas, mas o diagnóstico é essencialmente clínico.




USG demonstrando septo vertical

                                                              RNM onde observa-se sinais inflamatórios 

O tratamento conservador está inicialmente indicado para todos os pacientes, sendo a primeira escolha em casos agudos, gestantes e lactantes.
O tratamento conservador inclui a utilização de antiinflamatórios, imobilização, infiltração com corticosteróides e fisioterapia, além da orientação para que o paciente evite o esforço repetido do polegar com o carregamento ulnar. O sucesso dessa modalidade de tratamento beira os 70%, no entanto são freqüentes as recidivas.


              Aplicação do USG na reabilitação                     Infiltração com corticóide



O tratamento cirúrgico para esta afecção já está bem consolidado e apresenta resltados consistentes. Tem por finalidade, descomprimir o túnel ósteofibroso, por meio da ressecção do ligamento transverso do carpo, excisão dos tendões extra-numerários e retirada da sinóvea degenerada e volumosa. Uma pequena incisão, de 2-5 cm, é realizada no punho, pela qual se consegue alcançar o compartimento extensor, o ligamento transverso do carpo, os tendões e suas respectivas bainhas. Uma complicação freqüente e muito indesejável é a lesão do ramo sensitivo radial, que pode provocar dor relacionada ao neuroma (inflamação do coto do nervo) e perda de sensibilidade no polegar.


Para o diagnóstico e tratamento procure sempre seu Ortopedista, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia. #Ortopedia #SBOT #SBQ #ClínicaGomes #CirurgiadoQuadril #Unimed #UnimedLins #Lins


terça-feira, 25 de agosto de 2015

Os saltos e as dores na coluna

Os saltos e as dores na coluna


O sapato de salto alto transmite elegância e beleza e é utilizado pelas mulheres desde a época de Louis XIV(o próprio usava salto), o rei Sol, na França. Entretanto, há um grande número de especulações e estudos sobre o malefícios e impacto que sua utilização traz sobre o aparelho locomotor; dor nos membros inferiores, encurtamento do tendão de Aquiles, alterações no padrão de marcha devido ao peso adicionado colocado sobre o antepé, e dor na região lombar, devido a alterações da coluna vertebral , e também uma chance aumentada de ter um entorse do tornozelo. As alterações provocadas pelo uso excessivo de saltos altos, estão bem consolidada na literatura médica, em especial nas deformidades do pé, como o hálux valgo, artelhos em garra, metatarsalgias mecânicas, fratura por estresse dos metatarsos e sesamóides e a artrose. Algumas pesquisas evidenciam que o uso do sapato de salto alto aumenta o ângulo da lordose lombar, outras demonstram o contrário, ou seja, que o salto alto pode levar à diminuição do ângulo da coluna lombar ou, ainda, que o salto alto não altera as curvaturas lombar e torácica, provocando polêmica ainda se os saltos originam afecções na coluna vertebral ou não.

Atualmente, sabe-se que quanto maior for o salto, maior será o deslocamento anterior do centro de massa, provocando maior descarga de peso no segmento lombar da coluna, justificando a incidência maior de dor nas mulheres que habitualmente usam saltos mais altos. Entretanto, quanto à existência de relação entre a altura do sapato de salto alto e as alterações posturais relacionadas à coluna vertebral, a literatura também tem sido controversa. Em outras palavras, existe um consenso que o mesmo favorece o aparecimento de dor nas costas, porém permanece controversa a razão deste fato, ou seja, se está relacionado com o aumento ou com a diminuição dos ângulos das curvaturas da coluna, com o deslocamento anterior do centro de massa ou com ambos.

Entretanto, os estudos nem sempre concordam no tipo de alteração provocada pelo mesmo. Por exemplo, os resultados de Pegoretti et al., os quais avaliaram a lordose lombar de três mulheres voluntárias com diferentes tipos de salto, mostraram que, com o aumento do salto, ocorreu a diminuição da lordose lombar, associada com o aumento da retroversão pélvica. Já para Sacco e Melo, as modificações posturais observadas foram: tendência à hiperextensão dos joelhos, anteversão da pelve, aumento das curvaturas lombar e da cifose torácica alta e antepulsão da pelve; além disso, os autores identificaram um aumento da base de sustentação. Nesta mesma perspectiva, Lee et al. e Iunes et al. demonstraram que o uso demasiado de calçados com salto alto, geralmente, causa encurtamento da musculatura da panturrilha, o que leva as pessoas habituadas ao seu uso a um desconforto na hora de usar um sapato de sola plana.

Enfim, há uma controvérsia se de fato os saltos, também quanto ao tamanho, se este poderiam provocar alterações pontuais na angulação dos segmentos lombar e torácico da coluna, no entanto outras anomalias já foram comprovadas, e à luz desses fatos, cabe a mulher usar de maneira parcimoniosa esse tipo de calçado, ressaltando aqui o apelo deste Ortopedista que vos fala faz em alguns dos posts: usem mais os tênis.

#ORTOPEDIA #SBOT #SBQ #CirurgiadoQuadril #Unimed #UnimedLins #Lins 

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Joanete : pode ser só a ponta do Iceberg.

Sabe a Joanete? Ela pode ser somente a ponta do iceberg. 

Uma das queixas mais freqüentes das pacientes no consultório, é sem dúvida, de dor causada pela “joanete”. Entretanto,  essa saliência é, na realidade,  uma manifestação da deformidade irreversível que ocorre no antepé (região anterior do pé), provocada pelo desvio lateral do hálux (“dedão”) e medial do 1º metatarsal, algumas associada a rotação também (veja a ilustração), a qual chamamos de hálux valgo(HV).

A deformidade é resultado de uma série de alterações na anatomia do pé, atingindo principalmente a articulação do hálux, conseqüente a alterações da cápsula articular, desequilíbrios entre as forças de tendões flexores , extensores e abdutor; frouxidão do ligamento colateral medial e outras, que culminam com a distribuição de carga anormal no pé.
As mulheres acima dos 50, são de longe mais afetadas que o homens na proporção de 9🚺 para cada 1🚹, havendo ainda uma predisposição familiar de até 70% nos pacientes com HV.
Doenças reumatológicas, principalmente a artrite reumatóide, que causa deformidades graves; doença neurológicas como paralisia cerebral, poliomielite, seqüelas de acidente vascular cerebral; traumas e tumores podem também ser a causa do HV. 
A dificuldade em calçar determinado tipo sapato, dor na bunnion(“joanete”), aspectos estéticos, envolvimento de outro artelho( normalmente o 2º artelho pode ter deformidade em garra), são queixas comuns.
O diagnóstico é realizado às vezes de forma fácil, uma vez que a deformidade pode ser bastante aparente. Contudo, o exame físico determina quais são as estruturas mais afetadas, ressaltando que várias são as causas, e um hálux valgo não é igual a nenhum outro, devendo ser particularizado para cada paciente para que o tratamento tenha êxito. 

As radiografias ajudam a identificar uma série de ângulos, que auxiliam o Ortopedista a definir onde estão as principais anormalidades anatômicas a serem modificadas, caso o tratamento cirúrgico seja indicado.
O objetivo do tratamento é diminuir a dor e permitir uma marcha eficiente. Inicialmente é conservador(sem cirurgia), buscando o alívio dos sintomas com medicações, mudanças de hábito quanto ao uso de calçados e eventuais órteses.

O tratamento cirúrgico só é considerado após a falha no tratamento conservador. São mais de 100(isso mesmo CEM!) os procedimentos cirúrgicos que podem ser utilizados para correção do hálux valgo. Esse grande número de técnicas é dado em parte pela gama enorme de causas e, portanto, de apresentações que um HV pode ter. Durante a evolução do tratamento cirúrgico observou-se que determinadas técnicas funcionavam para alguns casos e eram até desastrosos para outros. Portanto é imprescindível que o Ortopedista esteja habituado com as várias deformidades e técnicas.

Para as mulheres, resta lembrar-lhes que o uso dos calçados de câmara anterior estreita (sapatos de bico finos) aliados a uma tendência familiar, são decisivos para o aparecimento do hálux valgo. Não é proibido usá-los, mas dê um descanso aos seus pés e use durante a maior parte do tempo, calçados mais ergonômicos: os tênis.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Joelho do Saltador-"jumper's knee"

Joelho do saltador – “jumper´s knee”


           
           O que é
A tendinopatia da patela é uma patologia bastante freqüente, especialmente nos atletas saltadores e naqueles que submetem o aparelho extensor (quadríceps é o mais forte grupamento muscular do corpo e juntamente com o seu tendão quadriceptal, patela e ligamento ou tendão patelar, formam o aparelho extensor) a esforços muito grandes e repetitivos.
O tendão ou ligamento patelar
O tendão patelar ou ligamento patelar, denominação mais atual, é a extensão do tendão quadriceptal, que se fixa na tuberosidade anterior da tíbia, uma saliência óssea palpável na região anterior do joelho, aproximadamente 3-4 cm abaixo do pólo inferior da patela (a antiga rótula).

Como e porque acontece


A origem deste distúrbio está relacionada principalmente com o esforço repetitivo com sobrecarga durante atividades de corridas e saltos, sendo comum em atletas de atletismo, basquete, esqui, tênis e vôlei. Atletas que treinam mais de três vezes por semana são mais suscetíveis à tendinopatia patelar do que aqueles que treinam com menor freqüência. O IMC, índice que avalia a massa corpórea, mesmo não havendo uma correlação exata com um número determinado, sabe-se que quanto maior também é maior a chance para o desenvolvimento desta afecção. Além disso, a falta de alongamento do quadríceps(musculatura anterior da coxa) e dos isquiotibiais(musculatura posterior da coxa), são fatores reconhecidos que predispõem a tendinopatia da patela.
Carga excessiva pode causar falha de tensão nas fibras do tendão, resultando em pequenas lesões. Quando isso ocorre, os tenócitos (células do tendão) aumentam a produção de colágeno e matriz. Esse é um processo lento que, devido à baixa taxa de regeneração do colágeno e à carga adicional aplicada, desencadeará um ciclo de pequenas lesões, não seguidas de reparo desejado, instalando-se assim área ou áreas de tendinose. A tendinose é o termo usado para caracterizar a degeneração do tendão sem sinais clínicos ou histológicos de processo inflamatório. Como o resultado histopatológico de tendões com tendinopatia patelar demonstra degeneração do colágeno, com desorientação das fibras, aumento de substância mucóide e ausência de células inflamatórias, isso nos permite dizer que as tendinopatias patelares são, em verdade, tendinoses patelares, pelo menos na grande maioria dos casos.
A dor e a avaliação médica

A dor na parte distal da patela é bem evidente, estando presente somente no início das práticas esportivas, porém coma progressão da doença, é comum a dor se instalar durante e no final do exercício, podendo enfim  ser contínua e durante o repouso.
O achado mais consistente no exame físico é a dor na palpação da parte mais inferior da patela, podendo estar associada frequentemente com a hipotrofia do músculo da coxa, em especial do vasto medial. A avaliação pelo ortopedista é essencial, pois o diagnósticos diferenciais necessitam de uma minuciosa avaliação clínica e são eles; a condromalácea e a instabilidade femoropatelares, e a hoffite (inflamação na gordura de Hoffa), doença de Osgood-Schlatter e síndrome de Sinding-Larsen-Johansson.

Exames

As radiografias podem diagnosticar as osteocondrites em estágios mais avançados (Osgood-Schlatter e síndrome de Sinding-Larsen-Johansson). A ultrassonografia(USG) é um método rápido, eficaz, não-invasivo e barato, que permite a interpretação de dados consistentes desta patologia, mas depende da habilidade do examinador. A ressonância magnética (RNM), fornece imagens mais detalhadas, mas tem alto custo. A acurácia, ou seja a eficácia em se determinar o diagnóstico, pelo USG e RNM são bastante semelhantes, portanto a USG trata-se de exame de escolha para investigação inicial.

O tratamento

O tratamento é essencialmente fisioterápico e prolongado(3 a 6 meses de duração) , relegando as cirurgias a casos no quais haja ruptura parcial ou totais, ou mesmo na falha após protocolo de reabilitação bem executado após 6 meses.



Representação gráfica de uma das modalidade de tratamento cirúrgico


           Em linhas gerais, imobilização e anti-inflamatórios não estão indicados, pois a primeira causa atrofia do tendão, provocando até mesmo o agravo da doença e o segundo, por não se tratar de patologia inflamatória, têm pouca ou nenhuma eficácia e o uso destes está relacionado intimamente com complicações gástricas.
            Infiltrações com corticóides estão proscritas, pois aumentam a degeneração já em curso do tendão, aumentando assim a chance de uma ruptura espontânea.
A suspensão da atividade física, deve somente compreender as atividades com sobrecarga do aparelho extensor que causaram a patologia, logo aquelas atividades listadas no começo, como os esportes de salto.


O laser, ultrassom e a terapia por ondas de choque, parecem estimular a reorganização do tecido doente, mas a ciência e a aplicação por detrás destes procedimentos não me cabe aqui explicar, ficando mais ao cargo dos fisioterapeutas.









Os protocolos de reabilitação por meio de exercícios de alongamento e fortalecimento dos músculos variam muito. Os exercícios de fortalecimento excêntricos do quadríceps são os mais usados nos processo de reabilitação, que parecem aumentar a atividade metabólica, incrementando a síntese de colágeno tipo I.
                       Fortalecimento do quadríceps no plano inclinado a 30°





segunda-feira, 27 de julho de 2015

Síndrome da banda iliotibial

DOR NO JOELHO NÃO TRAUMÁTICA

Resolvi escrever aqui acerca desse sintoma, tão freqüente na nossa vida e conseqüentemente na minha prática médica, por observar que há muita controvérsia no que tange a história clínica, exame físico, propedêutica armada (exames de imagem) e por fim, o diagnóstico. Publicarei uma série de pequenos textos, somente com o propósito de demonstrar como é vasta a gama de diagnósticos e também de tratamentos específicos, para as lesões do joelho, o que torna o diagnóstico principalmente, um desafio ao especialista. Começaremos pela Síndrome da banda íliotibial

Síndrome da banda íliotibial

Trata-se de uma inflamação na parte mais distal do trato íliotibial que acontece muito mais freqüentemente em corredores e ciclistas.

O trato íliotibial(TIT) é uma faixa ou banda fibrosa aponeurótica, portanto bastante rígida, originada da extensão da fáscia do glúteo máximo e do tensor da fáscia lata, músculos do quadril , que se estendem pela coxa lateralmente, chegando ao joelho e misturando-se às fibras do retináculo lateral do joelho e do ligamento colateral lateral, originando também o ligamento patelo-femoral lateral na sua porção média, inserindo-se na cápsula articular e finalmente no tubérculo de Gerdy (proeminência óssea da tíbia). Logo, atravessando praticamente toda a extensão da coxa e joelho, misturando-se aos ligamentos e até mesmo originando alguns, fica mais fácil de entender e imaginar a importância desta estrutura para a função normal do joelho, especialmente com grandes demandas durantes às práticas desportivas. Sabe-se que o TIT é especialmente importante na estabilidade ântero-lateral do joelho.

A inflamação do TIT decorre do atrito contra o epicôndilo femoral lateral, uma saliência óssea encontrada no fêmur, palpável lateralmente no joelho e comum a todos nós. Esse atrito ocorre nos movimentos com flexão e extensão do joelho, ocasionando microtraumas a TIT, por overuse(lesões ocasionadas por atividades físicas em demasia).

Os sintomas são inicialmente discretos, como a dor na face lateral do joelho, agravando-se com a atividade física, podendo irradiar para a perna ou para coxa. O sintoma geralmente piora com a continuidade dos exercícios físicos e pode se manifestar até mesmo no repouso se não for identificada e tratada adequadamente.

É de suma importância a avaliação pelo médico ortopedista, com a investigação dos hábitos e um cuidadoso  e minucioso exame físico para detectar ou levar á suspeição do diagnóstico, uma vez que lesões agudas ou crônicas do mensico lateral, entesites do músculo poplíteo ou do bíceps femoral e a síndrome da fabela, podem simular o mesmo quadro.

As radiografias podem ajudar a excluir outras patologias, entretanto não apresentam alterações significativas nesta patologia. Exames como a USG e a RNM, podem adicionar detalhes, que se relacionados aos achados do exame físico, podem confirmar o diagnóstico nos casos duvidosos.

                     Ultrassonografia












                                                                                                                                                                                   Ressonância Magnética (RNM)

O tratamento consiste, essencialmente no repouso relativo, evitando-se as atividades físicas 
relacionadas com a gênese desta patologia(corrida e ciclismo), associado ao tratamento fisioterápico com finalidade analgésica. Após a cessação da dor, os alongamentos do TIT e fortalecimento muscular(glúteos, rotadores externos, tensor da fáscia lata e isquiotibiais) são suficientes para curar a grande maioria dos casos, ficando o tratamento cirúrgico reservado aos casos refratários.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Síndrome do estresse tibial medial da tíbia


Síndrome do estresse tibial medial
Canelite, "shin splint "



     A Síndrome do Estresse Tibial Medial (SETM), também conhecida como: dor na perna induzida pelo exercício”, “shin splint” e “canelite”, foi primeiramente descrita como um complexo de sintomas encontrados em atletas que apresentam dor induzida pelo exercício localizada na borda póstero-medial da tíbia. Tais denominações representam um espectro de reações ósseas, do periósteo e/ou da fáscia causadas por estresse e localizadas no bordo póstero-medial da tíbia.
A SETM é uma patologia muito frequente nos corredores entre 10 a 15% de todas as lesões nesses atletas e mais de 22% das lesões encontradas em dançarinos de aeróbica.
Até 15% dos corredores de média e longa distância tem SETM

     Embora frequente essa patologia, os mecanismos causadores dela não foram totalmente elucidados e sua exata fisiopatologia permanece obscura.

Até mais recentemente, a teoria mais aceita é de uma inflamação do periósteo, ocasionada pela tração exercida pelos músculos sóleo, flexor longo dos dedos e pela fáscia crural profunda. A dor pode corresponder a uma resposta osteoblástica por irritação periosteal, possivelmente causada por ruptura das fibras de Sharpey, entre tendões e a tíbia. O músculo sóleo, através de sua ampla inserção na tíbia, é considerado um dos principais desencadeadores desta síndrome, pela tração contínua gerada. Alguns autores combatem as teorias acima por não identificarem fenômenos inflamatórios em biópsias do tecido acometido.
Recentemente, estudos apoiam a teoria de que a patologia não corresponde a um processo inflamatório do periósteo, mas sim a uma reação de estresse óssea que se tornou dolorosa.
O desequilíbrio gerado pela formação osteoblástica e a destruição osteoclástica, quando da atividade física, causa um aumento comprovado da porosidade do osso em até 20%.

Pronação excessiva do retropé

     Alguns fatores predisponentes foram descritos como: pronação excessiva ou  velocidade de pronação elevada, o estiramento do músculo sóleo, as atividades de impacto repetitivo, o aumento súbito na frequência, intensidade e duração da atividade esportiva, o treinamento em superfícies rígidas, técnicas de treinamento inapropriadas, aumento súbito na intensidade de treinamento, mudanças no calçado, desequilíbrios musculares, deficiências de flexibilidade, elevado índice de massa corporal, lesões pregressas e anormalidades biomecânicas.

DIAGNÓSTICO

     O diagnóstico pode ser bem definido através da história clínica e do exame físico. A dor apresenta um caráter difuso, que se manifesta durante as atividades de corrida ou salto, piora ao longo do exercício. Os sintomas duram dias ou semanas a meses e interferem na programação de treinamento do atleta. Ao exame físico, palpa-se um longo segmento doloroso, com alguns pontos mais intensos, abrangendo uma região localizada no bordo póstero-medial da tíbia, principalmente nos terços médio e distal.



                                     

        Ressonância Magnética                   Método de classificação para SETM

     A ressonância magnética é o melhor método para o diagnóstico específico de cada estágio, fornecendo dados mais confiáveis a respeito da duração e da extensão da lesão. No estágio inicial, a ressonância magnética revela edema localizado na região periosteal, podendo progredir para edema medular, o qual se intensifica progressivamente. No último estágio, uma linha de fratura cortical torna-se evidente.







                                                             Cintilografia


Na cintilografia óssea, a fase a fase tardia demonstra uma concentração alongada no bordo póstero-medial da tíbia, acometendo 1/3 a 3/4 do comprimento do osso. Esse padrão é diferente da fratura de estresse, pois, nesta, todas as fases do estudo são anormais.
A tomografia computadorizada de alta resolução também pode ser empregada com alta acurácia no diagnóstico.
Os diagnósticos diferenciais são: o osteoma osteóide, a osteomielite e a metástase óssea cortical.

TRATAMENTO

       O tratamento conservador das fraturas de estresse deve englobar a manutenção das atividades físicas para preservar o condicionamento cardiovascular, evitando a realização de movimentos que intensifiquem o estresse na região comprometida, tais como nas situações de alto impacto (saltos e corridas).
      As atividades de vida diária são mantidas sem limitações, inclusive a deambulação com carga é permitida desde o início do tratamento. A redução na intensidade do treinamento de corrida e salto também pode ser um meio efetivo na prevenção das fraturas por estresse dos membros inferiores.
     O uso de medicações analgésicas, assim como a crioterapia(aplicar gelo na região acometida) na fase aguda, propicia o alívio da dor, condição que permite ao atleta iniciar precocemente o processo de reabilitação specífico. Nesse processo, o atleta inicia progressivamente o retorno às atividades de caminhada, trote e corrida até a normalização das condições de treinamento.
     A utilização de bisfosfonados (medicamentos que inibem a atividade de células osteoclásticas) na prevenção e tratamento das fraturas por estresse também é fruto de investigação na literatura. Os bisfosfonados ligam-se aos cristais de hidroxiapatita no osso e podem bloquear a dissolução da matriz pelos osteoclastos, o que permite um balanço a favor da formação óssea.  
     As fraturas de estresse da tíbia localizadas na face póstero-medial são consideradas de baixo risco e se consolidam após duas a seis semanas de modificação do treinamento ou repouso relativo, associados à correção dos fatores desencadeantes, permitindo um retorno progressivo ao esporte. Algumas fraturas necessitam de 3-4 meses para o retorno completo às atividades. Há uma variante das fraturas de estresse de tíbia caracterizada por uma linha de radioluscência (dreaded black lines), localizada na cortical anterior ao nível do terço médio da tíbia, que representam a minoria das fraturas de estresse da tíbia e necessitam de tratamento específico com repouso prolongado, imobilização do membro e deambulação sem apoio até evidências radiográficas de formação de calo ósseo (seis a oito semanas). São consideradas de pior prognóstico, podendo evoluir para retardo de consolidação e pseudoartrose (não-união da fratura).
     A eletroestimulação também tem sido utilizada para o tratamento das fraturas de estresse com resultados controversos. Solados e palmilhas absorvedoras de choque também são utilizados no tratamento e reduzem a incidência de fraturas por estresse e das reações de estresse ósseo (síndrome de estresse tibial medial), especialmente aquelas nas quais há elevação do arco plantar, evitando a pronação excessiva do pé. A utilização de órteses pneumáticas na reabilitação das fraturas por estresse da tíbia reduz significativamente o tempo de retorno ao treinamento esportivo. A terapia com ondas de ultrassom pulsado de baixa intensidade também foi descrita como coadjuvante na aceleração do processo de reparação óssea nas fraturas de estresse de tíbia.


Tratamento cirúrgico com haste intramedular bloqueada

     O tratamento cirúrgico raramente é indicado nas fraturas de estresse da tíbia. A literatura apresenta séries de casos sem padronização de procedimentos, com protocolos variados de reabilitação pré e pós-operatória, o que limita o poder das informações apresentadas quanto à técnica ideal de tratamento. As indicações para o tratamento cirúrgico são os casos refratários ao tratamento conservador após três a seis meses, atletas de elite, fraturas de terço médio da perna com sinais radiográficos e clínicos de pseudoartrose. Algumas técnicas cirúrgicas são descritas, como: haste intramedular (fresada, não fresada, bloqueada, não bloqueada, com ou sem enxerto ósseo), corticotomia (aberta, percutânea, com ou sem enxerto ósseo) As complicações após tratamento cirúrgico incluem a fratura completa e a refratura.


     O retorno às atividades esportivas permanece foco de controvérsia, pois a fratura por estresse pode não apresentar sinais evidentes de consolidação nas radiografias, ainda que clinicamente o paciente não apresente mais dor. O critério adotado pela maioria dos cirurgiões tem sido a ausência da dor.